Conhecidas no meio acadêmico como “supernovas”, as universidades federais criadas em 2018 registraram avanços significativos no ranking geral do RUF 2025, em comparação com o levantamento do ano anterior. Das 5 instituições, 2 subiram mais de 20 posições. A UFDPar (Universidade Federal do Delta do Parnaíba) avançou 35 posições na classificação geral.
Além delas, a sexta universidade federal chamada de “supernova” estreia este ano no RUF —a Universidade Federal do Norte do Tocantins (UFNT), de 2019.
As “supernovas” fazem parte do movimento de expansão e interiorização da educação superior, iniciado em 2008, e compartilham uma trajetória muito semelhante.
O caminho um tanto tortuoso começa pelo fato de todas serem resultado do desmembramento de universidades federais existentes e passa por restrições financeiras e obstáculos variados, como a pandemia da Covid-19.
Apenas mais recentemente essas instituições obtiveram recursos humanos e materiais necessários à implementação de suas atividades acadêmicas, possibilitando a oferta de novos cursos, ampliação da pesquisa, estabelecimento de parcerias e melhora da percepção interna e externa.
“Foi somente a partir do final de 2023 que conseguimos estruturar administrativamente a universidade, podendo contar, pelo menos em parte, com o corpo técnico de que precisávamos”, conta Roselma Lucchese, reitora da Universidade Federal de Catalão (UFCat), em Goiás.
Com isso, a instituição abriu caminho para ações e conquistas que ajudam a explicar o crescimento no ranking geral, de 12 posições (do 184º lugar em 2024 para o 172º em 2025).
Roselma destaca, por exemplo, as pesquisa que contribuem para a preservação dos biomas da região, como o monitoramento da onça parda na porção norte do estado de Goiás e os estudos sobre a raposa do campo, em risco de extinção. Algumas dessas pesquisas são financiadas por empresas de mineração, com forte presença na economia goiana.
Em outra frente, a universidade vem fortalecendo os cursos da área de saúde. Além de medicina, que formará sua primeira turma este ano, foram lançados o bacharelado e a licenciatura em psicologia e o mestrado profissional em saúde. E, no primeiro trimestre do ano que vem, a UFCat contará com o primeiro hospital universitário fora da capital do estado.
Airon de Melo, reitor da Universidade Federal do Agreste de Pernambuco (Ufape), também aponta 2024 como marco da consolidação da instituição, permitindo o salto de 23 posições, da 183a colocação para a 160a. “Foi um ano de virada, pois tivemos condições de assumir, de fato, as funções e obrigações da universidade”, afirma.
O reitor diz que a Ufape se insere na tradição de Garanhuns como polo educacional da região, inicialmente de nível secundário e agora superior, com cursos intrinsecamente ligados à vocação econômica da região, como agronomia, veterinária e zootecnia, ao lado de novidades como administração e ciências contábeis.
“Nosso investimento anual é da ordem de R$ 100 milhões, para custear o ensino de cerca de 2.600 estudantes e também para produzir ciência”, diz Airon.
“Grande parte dos jovens que se formam conosco permanecem na região e muitas vezes se tornam empreendedores. É um impacto importante para a comunidade.”
Nessa mesma linha, a Universidade Federal do Delta do Parnaíba (UFDPar) enxerga seu papel de motor do desenvolvimento socioeconômico, por meio da oferta de oportunidades para os jovens, incluindo aqueles que, tanto no Piauí, onde a instituição está localizada, como nos municípios vizinhos acabam não fazendo o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).
Para isso, realizou processos de seleção próprios, fora do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), voltados para a escolas públicas e, em alguns casos, sem exame, com base no histórico escolar.
Com isso, aumentou de 87% para 94% a ocupação de vagas dos cursos de graduação, que têm como eixos principais a formação de professores, as ciências sociais e as carreiras na área da saúde.
“Estamos mudando a cultura universitária, sempre associada às capitais, levando essa cultura a novos públicos, e mudando a visão da sociedade sobre o papel das instituições de ensino superior”, explica João Paulo Macedo, reitor da UFDPar, que avançou 35 posições no ranking geral do RUF, chegando à 140ª colocação.
Das cinco universidades de 2018, três foram criadas na região Centro-Oeste, que contava até então com quatro universidades federais, todas das décadas de 1960 e 1970 e sediadas em capitais.
Além da UFCAT, fazem parte das “supernovas” a Universidade Federal de Jataí (UFJ), também em Goiás, e a Universidade Federal de Rondonópolis (UFR), em Mato Grosso.
“Uma de nossas prioridades é a fixação de estudantes e pesquisadores na região, para que não precisem buscar fora oportunidades de mestrado e doutorado, ampliando nossa produção científica, com um nível de qualidade que faça diferença”, afirma Christiano Coelho, reitor da UFJ, que subiu sete posições na classificação do RUF.
No ano passado, a universidade passou de 10 para 15 cursos de pós-graduação, com mais 3 mestrados e 2 doutorados. Com isso, todos os departamentos contam agora com pelo menos uma pós-graduação.
Esse incremento veio acompanhado de aumento de 50% no número de bolsas do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid), investimentos de R$ 4,3 milhões em assistência estudantil (contemplando bolsas, moradia, alimentação e saúde) e concessão de mais de 500 bolsas permanência do MEC para estudantes indígenas e quilombolas.
Além do ensino, da pesquisa e da extensão, a Universidade Federal de Rondonópolis (UFR) tem também a inovação como pilar estratégico, o que se traduziu, por exemplo, na criação de uma secretaria de Inovação e Empreendedorismo.
“Trabalhamos de portas abertas, rompendo muros e buscando ouvir das empresas como podemos ajudá-las”, afirma a reitora Analy Polizel, destacando a premiação como universidade mais empreendedora do estado do Mato Grosso em 2024. No RUF 2025, a UFR subiu 11 posições e ficou no 186º lugar.
Esse tipo de atuação não se limita à iniciativa privada. A reitora conta que a UFR articula atualmente investimentos federais e estaduais para a construção do hospital universitário, com previsão de 250 leitos, abrangendo uma área dedicadas ao atendimento de queimados e outra dedicada às comunidades indígenas. “A universidade acaba sendo um catalisador de esforços e ações.”


