A Caixa Econômica Federal alugou a antiga sede do Banco do Brasil, um dos prédios mais icônicos de Brasília, por R$ 2,5 milhões mensais. O valor total do contrato de cinco anos, assinado em setembro, é de R$ 150 milhões.
O edifício, ocupado pelo Banco do Brasil entre 1962 e 2015, foi comprado no ano passado por R$ 85 milhões pela Paulo Octávio, uma das maiores empreiteiras de Brasília, do BB Fundo de Investimento Imobiliário Progressivo.
No documento no qual justifica a necessidade de aluguel, a Caixa aponta que dois dos quatro edifícios administrativos de Brasília, incluindo a sede principal, estão funcionando acima da capacidade —o que tem levado a problemas como a demora dos elevadores.
“O excedente de ocupação no Edifício Matriz 1 tem gerado dificuldades operacionais, especialmente quanto ao transporte vertical ao cumprimento da Norma Regulamentadora nº 24 [norma do Ministério do Trabalho quanto ao conforto e à higiene no local de trabalho], bem como à viabilidade de execução das obras de retrofit necessárias”, afirma o banco, em documento de agosto.
O problema de superlotação acontece, aponta a Caixa, por causa “da estratégia corporativa adotada entre os anos de 2019 e 2022, a qual contemplou, entre outras medidas, a devolução do imóvel localizado no Setor de Autarquias Sul”, em Brasília.
Outra razão levantada pela Caixa para justificar o novo aluguel é a contratação de mais funcionários.
O chamado “sede 1 do Banco do Brasil” foi comprado pela Paulo Octávio em 1º de julho de 2024 e passa por obras de modernização desde então. Segundo a construtora, o processo será finalizado em fevereiro do ano que vem.
A consulta pública da Caixa, que exigia imóveis prontos, recebeu sete propostas. Delas, quatro foram excluídas por se tratarem de imóveis em construção ou a construir.
Um dos imóveis seria entregue em julho de 2026 ao custo de R$ 1,8 milhão por mês —portanto, cinco meses depois do escolhido, mas R$ 700 mil mais barato.
Entre os outros três, um foi vetado por ficar a mais de 10 quilômetros da rodoviária de Brasília (a distância é de 11,3 quilômetros) e outro por ser, em tese, pequeno demais. Assim, restou apenas a proposta da Paulo Octávio.
A Caixa não respondeu quando pretende ocupar o novo imóvel a partir da entrega, prevista para fevereiro. O banco também não esclareceu se vai manter os outros quatro prédios administrativos de Brasília e se o principal deles, conhecido como Matriz 1, será inteiramente esvaziado para reformas.
Em nota, a estatal disse apenas que a ocupação de edificações administrativas “está alinhada às diretrizes estratégicas e de negócios da instituição, ocorrendo conforme a necessidade de movimentação das unidades, cujas estruturas passam por constante revisão e atualização”.
“Em cada movimentação são realizadas adequações para garantir a conformidade, eficiência e a funcionalidade dos espaços, sempre observando as melhores práticas e balizadores de mercado, além dos princípios da administração pública”, completou.
O imóvel conta com uma torre de 21 andares, duas salas, uma agência bancária e uma sobreloja. A agência bancária e a sobreloja, hoje ocupadas por uma agência do Banco do Brasil, não fazem parte do contrato com a Caixa.
A agência deverá ser desocupada antes da entrega e poderá ser alugada pela Caixa “desde que haja necessidade de espaço”. A Paulo Octávio não informou quando o Banco do Brasil deixará o espaço.
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À Caixa a construtora estimou que gastará R$ 142 milhões para adequar o prédio. Questionada pela Folha, disse que as reformas já consumiram R$ 192 milhões e vão demandar aproximadamente mais R$ 43 milhões —cerca de R$ 235 milhões, ao todo.
Somando os gastos de reforma e compra (R$ 320 milhões), a Paulo Octávio terá rendimento de 0,78% por mês sobre o valor do imóvel. Com isso, recuperará o dinheiro gasto para adquiri-lo em cerca de dois anos e dez meses. Já o montante investido na reforma será recuperado em outros sete anos e dez meses.
Desconsiderando que a agência bancária —que não é objeto do contrato— foi comprada por cerca de R$ 20 milhões, o montante de R$ 300 milhões acarretará em rendimento mensal de 0,83%, acima da média do mercado de Brasília.
Em entrevista ao C-Level da Folha em outubro, o presidente da Caixa, Carlos Vieira, estimou o rendimento médio para esse tipo de investimento em 0,5% do valor do imóvel.
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Com o retrofit concluído, a Caixa prevê desembolsar outros R$ 20 milhões para adequar o prédio às suas necessidades. Os gastos são para mobiliário e equipamentos de segurança, entre outros.
Em nota, a Paulo Octávio afirmou que o prédio “encontrava-se completamente abandonado há mais de 16 anos sem absolutamente nenhuma perspectiva de investimentos, reclamando, por evidente, vultosos gastos para a sua necessária recuperação” —o imóvel, porém, estava desocupado havia dez anos.
A empresa disse que a aquisição ocorreu em parceria com a Heil Assessoria Imobiliária Spe e que as duas já investiram R$ 192.426.572 “na necessária e imprescindível revitalização do edifício, sem que tal valor represente o montante total necessário para a completa recuperação do prédio que é estimado, ainda, em mais R$ 43 milhões”.
Apesar da assinatura do contrato com a Caixa, mediante o cumprimento de uma série de condições até a entrega, a construtora disse que “a completa ocupação do prédio estará sendo oportunamente negociada com todos os interessados”.
O edifício foi inaugurado nos primeiros anos da capital federal, em 1962, em um local escolhido pessoalmente por Lúcio Costa, responsável pelo plano urbanístico da cidade. Projetado pelo arquiteto Ary Garcia Roza, o imóvel abriga três painéis do artista Athos Bulcão, mural em bronze de Bruno Giorgi, além de dois painéis e paisagismo de Burle Marx.
Um pedido de tombamento apresentado pelo CAU (Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil) ao Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) em 2016 ainda está em análise. Em outubro do ano passado, a reforma foi embargada pelo órgão para garantir que as características originais fossem preservadas.


